Um escritor sem perspectiva em busca
de seu ponto de fuga
(Um leitor com pontos de vista contraditórios e um modesto fio condutor fora de foco)
UM RISCO COMO PONTO DE FUGA
O termo
“escritura” se refere a aquilo que se chama no judaísmo de “torá she bel a pé”
cujo dignificado literal é “tora oral” ou “instrução oral”.O pentateuco é o
percurso para se atingir o Eterno,o
transcendente, dentro da psicologia analítico é um dos arqutipos da
individuação e da plenitude
Quando
nos referimos ao Risco é preciso entender o termo sob dois aspectos ,risco como
vontade,coragem e risco como representação
Ponto de
fuga é o objetivo,o projeto que é determinado pela oralidade
A
escritura é risco, é a sombra ou as letras brancas do percurso
“Um arquiteto sem perspectiva em busca de seu
ponto de fuga” Flavio Motta
Este é título de um livrinho de um educador que desempenhou um papel magnífico de mestre do absurdo
Seu autor ,Flavio Motta ,era o polêmico anarquista das salas
de aula
Flavio Motta nos deixou uma extensa obra poética calcada principalmente em artigos de crítica de arte e arquitetura da revista
Habitat de Lina Bo Bardi e entrevistas em que nos ensina como sermos educadores antes de tudo
Sua visão busca mais
que um ponto é uma perspectiva axonometrico (com um ponto de fuga
no infinito) ou melhor a anamorfose do sentido obvio.É o repentino contorno como escrita
inclusivo e infinito
O que caracterizava Flavio Motta assim como Gilberto Freyre
era esta capacidade de juntar “alhos com
bugalhos” ou “nem cornetas nem trombetas” em situações surrealistas dentro de uma perspectiva mágica.
Era renascentista como o ponto de fuga mas maneirista como
ponto de vista.
Calculo ou historia,projeto ou higiene ,teoria e calculo
estrutural,separados ou tudo junto,dentro deste conceito anamorfotico como a relação Eu-tu ,uma perspectiva mágica
da “alegria é o Noves fora” (do antropofágico Oswald de Andrade),algo que se
explica pelo sentido transcendental .
Situar o ponto de fuga no observador se fazia como a anedota com uma
perspectiva invertida
Havia algo no encontro de Flavio Motta e Vilanova Artigas ,dois
educadores antes de tudo,um marxista poeta,um poeta anarquista.
Durante uma aula com
Vilanova Artigas e Abrão Sanovicz ,Flavio Motta irrompeu repentinamente
,olhou à todos e disse a Artigas
“--Não é nada disto,véinho
(nome carinhoso que davam a Artigas contrapondo-se a veio do mestre Niemeyer) a
tua genialidade não é a vã (vão) ...,é arte trabalho !!! ,para espanto geral do
publico que ouvia em silencio as
palavras de Artigas. na Rua Maranhão
Artigas responde
carinhosamente com um abraço e diz --pois
é,muitas noites mal dormidas... e completadas por Abrahão Sanovicz –é, já não
se fazem vãos como antigamente,já não se fazem vãos como antigamente...(???).e
daí um estrondo geral de gargalhadas e
aplausos,Em um minuto espetacular um
ponto,um nó de sabedoria , movimento cênico,desenho,poesia
, três mestres e público interagindo.
O poeta arquiteto não tem ponto de fuga e sua perspectiva é
infinita.( não é espaço nem tempo)
A relevância do museu de Niterói não é a função museológica que deveria ter (um barracão seria
melhor) mas uma flor que se contrapõe a baia de Guanabara .
O que significa sentir-se como o passarinho ou
beija-flor namorando sua amada rosa
diante do espelho magnífico das ondas do mar?
E o que seria da Pinacoteca se Paulo Mendes da Rocha não
tivesse transcriado a idéia de Caetano Veloso,do inverso , inverso do inverso?
.A frente no lado do fundo de lá e de cá numa ponte onde o
pátio cobre-se de luz.... afinal arte não é luz e sombra?
Como Paulo transduziu cenograficamente a obra de Musil “Um homem sem qualidades” de Bia Lessa ?
Um espelho metafísico do público,algo Borgiano,pleno de
gavetas ou Bomarzo?
Se a arquitetura é a materialização da música não ha nada
mais musical do que as generosas marquises ou as rampas do Ibirapuera
Qualquer que seja o arquiteto ou a arquitetura ,o urbano , o
risco de arriscar-se torna a planta que se insurge contra o concreto da cidade e nasce espontaneamente do
amor de algum passarinho e o reflexo de sua imagem na água da chuva.
Foi o amor pela
arquitetura ,que estes educadores nos batizaram com o gosto do dês-coberto
Não procuro o sabe-tudo dos monumentos,ou o monocórdio ou o monossilábico
.Nem o mistério das catedrais.Procuro o segredo ,o nó que une as contradições.
Procuro a mão que escreve e retoca .Como a mão do poeta que
escreve.É a mão que me move como o risco ,risco.
E se houver um final poderei dizer como Picasso
“ e no final,quando a
obra esta acabada,também dela já se retirou o autor”
Abre-se uma porta ao observador para que reescreva o que lê
ou vê
Lembro-me da poesia de Jorge de Lima
“alta noite ,quando
escreveis um poema qualquer
Sem sentirdes o que
escreveis,
Olhai vossa mão_,_que
vossa mão nos vos pertence mais;
Olhai como parece um
asa que viesse de longe
Olhai a luz que de
momento a momento
Sai entre seus dedos
recurvos.
Olhai a grande Mão
que sobre ela se abate
e a faz deslizar
sobre o papel estreito,
com o clamor
silencioso da Sabedoria
com a suavidade do
Céu
ou com a dureza do
Inferno!
Se não crede,tocai
com a outra mão inativa
As chagas da Mão que
escreve” Jorge de Lima cit A biblioteca e seus habitantes Americo de Oliveira
Costa ,Ed Achiamè
“A mão carece de
ponto de vista” Marshall Mc Luhan harley Parker ,O espaço na Poesia ,atravé do
ponto de fuga,hemus,são Paulo,1975
Todo artista ao riscar,como Jacó,luta com seu anjo
“Quando pinto um
quadro ,parece que me atiro no vazio”
...no fundo ,há
apenas amor.Qualquer que seja ___os desenhos que te ofereço são minhas cartas
de amor”..___escrevia a Genevieve Laporte,___Eu pinto como outros escrevem sua
auto-biografia .Minhas telas acabadas ou não,são paginas de meu diário, e é
nessa condição que são válidas” Picasso ,François Gilot, Carlton Lake vivre
avec Picasso
O “sofer” é o escriba da torah,do Tefilim,da mezuzah.Afirmam
os sábios cabalistas que um mínimo erro
de grafia mudará o sentido do universo .
A escritura as linguagens representáveis, é o todo que
agrega todas a letras ,palavras,fundos e figuras .Presume-se que haja uma trama
que ordena o sentido.
Para Cabalá há no
alfabeto hebraico 22 letras , a vigésima terceira é a mais importante porque é
onde esta aquilo que não pode ser
escrito,o inefável ,o inominável.
Em contraposição com
as letras fonéticas, o ideograma corresponde ao que chamamos de escrita similar
às letras brancas (fundo-figura) a um conjunto de linhas de força ,uma
arquitetura de energia que o sentido incorpora
Na película de Hitchcock a “trama” é o suspense.O
que dá sustentação ao mosaico de cenas é a ambigüidade da trama ,anunciada mas não desvelada.
A vinda do Messias é anunciada mas parece nunca chegar.A
caracterização do poético (a bíblia é essencialmente poética) torna o vir-a-ser
do judaísmo uma quimera.
Perguntaram a um
rabino ( que era físico,matemático,biólogo,médico e para não ficar sem fazer nada ainda dava umas aulinhas) em
Manhattan :
Rebe o que você acha
desta discussão sobre criacionismo e darwinismo?
O rebe pensou e disse
(em idish)
Criacionismik,darwinismik,beatnik tudo está escrito na torah ...sabemos como
foi o começo.Agora gostaria mesmo é
saber como vai ser o nosso fim e mais ainda onde está a chave do
banheiro!!!! (the key,the key!!!)
Quando se quer ir ao banheiro nada mais importante do que
achar a chave
Em geral as grandes discussões encerram na sua
superfície problemas muito mais urgentes
e prosaicos
Perguntaram a Woody
Allen qual o vizinho que gostaria de ter? e este respondeu
Num sábado à noite
quando estoura um cano eu gostaria de ter um encanador!!!!
Qual o significado
desta duas anedotas ?
É que há na sua profundidade além do discurso,uma magia
invisível do humor.
Praticamente no
inicio ,no da Torá nasce
a primeira anedota judaica,a historia Abrão e seu pai comerciante de ídolos .O pai crenet na multiplicida dos Deuses lhe diz para
tomar conta dos idolos .Ao ficar só ,
Abrahão os destrói –os deixando
um só com um martelo .Quando o
pai chega e vê todos os seus deuses destruídos
,diz,furioso, quem fez isto? E Abrahão responde __foi aquele ídolo ali com o
martelo ...
Ou seja Abrahão coloca um paradoxo na crença do pai que
acreditava piamente no poder dos ídolos
Quem cria deuses ( aí uma metáfora) esta sujeito a ser
destruído por um única mão ( de outro Deus).Uma das hipóteses do surgimento do
Monoteismo é sua herança do pensamento
provindo do Egito onde o movimento revolucionário de
Amenofis,Tutancamon,estabecele como culto oficial ,um único Deus,o Faraó como presença da ausência
Quando a obra acaba deixa-se a escritura.
O livro de Umberto
Eco,”A ilha do dia Interior “ é um romance onde há claramente uma lição de
escrita epistemológica.Há um desejo
intuitivo de se falar da natureza ,um esboço,que vai sendo consubstanciado por
uma trama enciclopédica onde o autor joga
um jogo enciclopédico onde o desejo do
personagem principal ao contrário das obras clássicas como Robinson Crusoé não é ,após um naufrágio, encontrar sua ilha . Roberto de la Grive,seu
personagem,não quer alcançá-la mas torná-la
mais distante.É um claro discurso
metafísico ,anedótico porque esta situação
que Eco fala em seu livro quando seu personagem lembra-se de cem
episódios picarescos “que modifica a seu modo,que interpreta segundo seus desejos
e que transforma num filme de aventuras
do qual ,com gula,,ele inverte as
bobinas “ artigo publicado no
Figaro,intitulado ‘As distorções do romanesco ,22 de fevereiro de 1996,citado
em Umberto Eco,O labirinto do Mundo Daniel Salvatore Schiffer Editora
Globo,1998.
O escrituralidade é o re-escrever de nós mesmos,a
re-invenção cotidiana do que pensamos que somos.
Mesmo os capítulos da obra parecem encenar um ridículo respeitável da erudição consubstanciadas por citações pomposas das
fontes filosóficas e históricas da Grécia até Heidegger como o capitulo XXXVII ,Dissertações em forma de paradoxos como o modo de pensar das
pedras,do capitulo XXXIV ,Monólogo
sobre a pluralidade dos mundos”.O capitulo XXXVI ,”O homem no ponto”
O capitulo XXXVII “Dissertações
em forma de pardoxos sobre o modo de pensar as pedras”
Todos estes capítulos
e a mais paradoxal de suas obras “Como fazer uma tese” onde seria melhor
entender como não há método para escrever a não ser lendo (tudo e muito mais)
se completam co a afirmação anedótica de Eco diante de Felinni __É um pensador—ou um
cineasta—voluptuoso.Que o saber ,o imaginário,o exame de si, a lógica
intermitente,o burlesco,o maneirismo e o existencialismo se acotovela,, se
fecundem e permitam ao leitor debruçar-se sobre seu próprio exílio eterno ,sua
moral em ebulição e o apetite de contar a si mesmo um número incrível de
peripécias “ ( a proposito do burlesco:Umbero Eco ,falando do caráter
cômico de certas “esquisitices científicas” de a “A ilha do dia Anterior” e
numa gargalhada com onde “veria muito
bem algumas invenções de Galileu num filme dos irmãos Marx”) entrevista com Michel Arseneault ,na
revista Lire,paris, Nº243,março de 1996
Ubu-Roi de
Alfred Jarryo malvado personagem do absurdo é cultuado porque é o paradigma
dialético do mundo que não se escreve mas que existe como a imaginação da
perversidade.
A “Patafisica” de seu autor ,”a ciência das soluções imaginárias”,trata
da” doenças da vontade” a precursora da
psicanálise de que fala Blaise Cendrar s e responsáveis pela criação e a criatividade
“As doenças existem.Não
a fazemos nem as desfazemos a nossso bel-prazer.Não somos senhores delas.Elas
que nos fazem,que nos modela.Talvez nos
tenham criado.São próprias deste estado de actividade que se chama vida”
Blaise Cendrars Moravagine ,editora
ulisseis limitada,,1974,Lisboa pg 30
Umberto Eco foi
professor de Semiotica na Faculdade
de Arquitetura em Roma e influenciou um sem números de teóricos da arquitetura desconstruindo
a historia e a re-construindo em suas obras literárias numa intricada trama que
parece mais real do que ficcional.
A profecia como método
Uma das questões que desafiam o pensador é descobrir o segredo dos grandes artistas.Se existe ou não
,há de fato uma enorme literatura que vai da biografia a pura
ficção de obscuros autores ,eles mesmos mestres na invenção de histórias e enfim a descoberta de disciplinas com o título pomposo de ciências
da criatividade.Esta confusão permeia o
mundo da concepção e se sustenta no mito do método científico que nem sempre
são apropriadas ao mundo das artes.
Em geral o teórico das artes , da arquitetura,da musica se apropria de modelos de
outras disciplinas com a desconstrução do seu objeto ou seja a decomposição em partes ,a
arqueologia do espaço ou a dissecação da
harmonia sonora e a reconstrução de modelos hipotéticos.
Não deixa de ser
fascinante a historia destas teorias.
Embora a arquitetura como fenômeno seja ancestral e que muito se havia escrito ,somente no
século XIII com o enciclopedismo napoleônico é que se deu de fato um processo de se entender a arquitetura como um objeto
especifico .Como em outras áreas o mito
do conhecimento se confundia com ação de se compilar e juntar.Os 10 livros da
obra de Julien Gaudet ,”Elementos de
teoria de filosofia da arquitetura” se assemelhavam ao hoje mito da informação
.Nem o conhecimento,nem a sabedoria,nem a criatividade pode ser compilada e
medidos em bits.
Mas não deixaram de ser paradoxalmente os responsáveis por
outro mito,o mito do aprendizado (ou hoje o mito do auto-ditatismo).A democratização
do conhecimento,antes patrimônio das guildas através da escrita impressa e o
surgimento da galáxia Gutemberg a
que Marshall Macluham se refere no
seu “Meio é a mensagem (ou massagem)”
A concepção da idéia de
escola ,da universidade veio
trazer com o novo paradigma a ilusão de
uma magia do saber e do poder.
Em 1929 ,Rene Fulöp-miler
,um jornalista húngaro de lingua alemã ,escreveu um livro “Os sonhos da
humanidade” transduzido magnificamente pelo jovem Mario Quintana cuja filosofia
heterodoxa mostra que a história
ocidental faz um movimento pendular
entre o onirismo patético, ideologia absurda e uma decadência
cataclitica e de uma maneira profética (algo próprio da nossa cultura escatológica) previa a
ascensão e a queda do nazismo ,o fascismo e o Comunismo!!!!!.Algo que nem os
políticos ou historiadores previam.
Fulop-Miller renegado ao ostracismo pela sua maneira de
pensar foi um dos mais prolíficos
pensadores heterodoxos e tinha na sua escrita,na maneira de pensar
representada,sua marca de jornalista ,cronista que conscientemente como os
grandes escritores usa da poética como
nó que une fatos aparentemente paradoxais.
Seus livros imensos como a Espirito
e Phisionomia do bolshevismo ,1933,Edit globo fala de um comunismo descoberto recentemente
com a cara da cultura do pais que o adotou,a China ,a Albania ou Cuba .Um livro
basicamente sobre arte,sobre teatro literatura e religião ,ou melhor,de poética
da cultura que refletem o âmago da mãe-patria russa .
Fala de uma Russia cujo povo será eternamente cativo de sua
alma russa no sentido mais profundo,uma
nação fragmentada que se une pelo misticismo de origem mística, muito mais do que religiosa
.A tentativa de uni-la pelo marxismo,ateísmo transformou um povo em zumbis
da obscuridade irracional do Stalinismo .O
comunismo plasmou um estado a semelhança do mais terrível Rasputin
, o chamã adorado e o responsável pela derrocada do império czarista.
É logo após a
revolução de 1919 quando o povo russo vivia a maior penúria de sua história que
aparecem as manifestações do misticismo recorrente russo. Rasputin era
imediatamente sobrepujado por Lenin,o líder da voz doce ,um novo onirismo da
alma chamanica siberiana.
O trabalhador não era o ponto de fuga Renascentista ,era a
idéia do porvir da inocência operária
centrado no infinito da utopia marxista.
O “Balagan” era o
teatro que mais exemplifica o ardor da ideologia soviética .Eram caravanas que
se deslocavam através de trens que transmitiam o ideal da revolução numa
dimensão dramática quase “pentecostal”
utilizando-se do do construir-em construído-construi-se como revelação.A peça se desenvolve tendo
como cenário a fábrica,as usinas ,seus apitos e sons peculiares e a
participação espontânea do público.
Esta grandiosidade sem roteiro foi transcrita para o cinema
com Vertov que editava as imagens
como uma sinfonia musical e Eisenstein que pintava o dramatismo da revolução como o
filme “O encouraçado Potiomkim”
DE certa forma lembra o “Gracias Senhor” do Grupo Oficia que
se construía sem roteiro através de provocações em performance de mais de dez
horas.
A idéia de performance era um manisfesto suprepticio de sentimento de medo durante a ditadura
Por outro lado o teatro
judaico Habima revelava o
espírito no nefesh-aruach do misticismo e
da escritura iidish e seu atores viviam quase
reclusos como um Kibutz isolado do mundo terreno.É nesse ambiente que pode
surgir pela primeira vez na história a representação de arquétipos judaicos
como “o violista no telhado” onde a palavra mágica era “Tradição,tradição” dos
“hassidim de Baal Shem Tov
Chagall foi a
primeira expressão de uma pintura expressionista judaica e assim como os
arquétipos do “Golem” e o “Dibuck” plasmaram a idéia da força de
um autômato e a mentepsicose dos sofredores .
Esta escritura que revelava o invisível dramático da
celebração do espírito teve precursores
que também foram afetados pelo arquétipo do oráculo , do “efeito
Édipo”.Cria grandes espetáculos que pudessem formar escritura s que
sustentassem o sentido nação de um” povo
sem história” como é o caso dos “Concertos
Monstros” realizados por Lous Moreau
Gottshalk no Rio de Janeiro no fim do século XXXVII após a Guerra do
Paraguai , a “abolição” falsa do escravos
A dialética era mais Vinicius de Morais cantando a Internacional socialista do que o
pragmatismo georgiano estanilista muito
mais “jihadista” do que chamânico
Dialetica
O misticismo ou a
religiosidade que esteve presente nas obras de Calderon de La Barca como “a vida é sonho” era uma releitura dos autos de fé recuperando
a escritura ,o ritual de origem pagão do Catolicismo Romano com a linguagem do sacrifício como preservação
das almas.Este idioma por mais terrível que o seja não é fruto só de mentes doentias , é o recorrente medo do
transgressivo .
Os grandes espetáculos nazistas tinham sua origem no
paganismo germânico.Era o Wotan personificado
por Hitler .Richard Wagner através de suas Obras como “Tanhauser” representa fielmente a estrutura do idioma
pagão que se incorpora ao momento da tragédia pós primeira guerra
O fascismo italiano também recupera o arquétipo do paganismo ,dos monumentos,dos espaços
vazios e do futurismo de Marinetti .
Curiosamente a obra mais conhecida de Fülop é um romance
sobre a descoberta da anestesia e a ilusão da superação da dor
Discutir a importância da profecia como elemento fundamental
na cultura ocidental parecia aos filósofos e historiadores absolutamente
impensável.
No mundo do método não há lugar para a intuição poética.Mas
se a arte é importante porque não tolerar
seu percurso anti-metodico.Como uma reserva indígena o sonhador deve reinvidicar seu território de profecia.
Isento de qualquer
vinculo ideológico Fulop-Miler passeia pela mais diversos temas e
títulos como um flaneur e sua deliciosa viajem pelas enciclopédias
Como Gilberto Freyre em seu “alhos com bugalhos” a relação
de objetos diferentes e contextos reais ou ficcionais toda obra é uma obra e
seu sentido radica na escrita
Livros como “Os Santos que abalaram o mundo”,”Lenin e Gandhi
“ falam de seres humanos imbuídos do
mais alto espírito metafísico
A idéia do “Scriptor” de Roland Barthes parece ser intuída
nestas obras de Fulop plenas de poesia,musica,manifestos e reescrituras publicas.Calderon de La Barca
também percebeu a beleza paradoxal dos autos-de-fé transformamdo-os em grandes
espetáculos públicos como “a vida é sonho”
A vida é sonho e sonho é a vida
Como o guru de Borges que sonha para que em pleno sonho descobrir que é sonhado.
O sonho aos olhos contemporâneos é a virtualidade de Matrix.Quem é real,quem é
sonhado?
Rui Belo em sua introdução à obra de Blaise Cendrars cita o processo criativo do autor em que diz
que o primeiro era encontrar o título,depois o tem a e após isso encontrar um
substrato para os dois
Brecht também afirmava inspirado no seu alter-ego ,senhor K. Fazia o outro parecer com seu esboço inicial.
A “historia do Diabo” de Villem Flüsser não é uma obra
anedótica ,ela é descrição paradoxal do seu personagem principal o anti-criador ,o satã,responsável
pela civilização e o mundo das imagens e representações.
“A expressão
“historia do diabo “ tem ,etimologicamente
vista ,raízes profundas.O termo “história” tem a ver com camadas que se
sucedem uma a outra,e a língua alemã liga o termo”história” (Geschichte),com o
termo “camada” (Schichte).O termo diabo tem a ver com o conceito de confusão e
,de maneira inquietante com o conceito “Deus”...” A história do diabo,Vilém
Flusser ,Martins, editora
Como profeta
glorioso,fausto,príncipe glorioso
ao contrario da propaganda anti-diabólica ,um companheiro criador das mais nobres conquistas do homem
como a Ciência,a arte e a filosofia.
Se os motivos divinos continuam obscuros ,Satã e sua obra
tem objetivos claros,confundir o homem para que crie sempre coisas novas. Em
outras palavras criar um novo paradigma é conhecer o paradigma.
Os sete pecados capitais constituem a ontologia da obra diabólica,soberba é a consciência de si
mesmo,Avareza é economia e dinheiro,Luxuria é instinto(ou afirmação da
vida).Gula é o direito a uma vida melhor.Inveja é luta.Ira é é a recusa a
comportamentos normóticos,portanto da dignidade,Tristeza é o estagio de
meditação .
São estas as armas que a religião chamam de ordens ou
métodos para eliminar a luz divina.
Como a arte tem um caráter perturbador ,confuso qualquer que
seja o método será o de mascarar a
conspiração diabólica do progredir.
Então procuramos o método contra-o-metodo ou o contra-metodo da epistemologia anárquica
de Feyerband.
É a obra mais perversa do pensamento diabólico.
Anarco-pensadores,anarco-arquitetos,anarco- ambientalistas
estão “dentro do mundo”pensando um mundo novo.
O mundo infinito ,eterno é inimaginável .Entretanto o
invisível,o inefável,impronunciavel produziu milhares de imagens que fizeram o
homem se distanciar do principio divino.Assim é o mundo
diabólico e assim progressivamente são
criadas imagens,escrituras que tentam –representa-lo.
O profeta ( o poeta,o artista)é a expressão maior da
escrituralidade .
Sem o nosso espelho estaríamos vivendo no universo sem
tempo-espaço.
Na Poética de Aristóteles o filosofo afirma que a
poesia é mais importante que a
historia.Porque a primeira trata do geral enquanto que a segunda trata do
particular
Em Roma os templos possuíam uma área destinadas aos deuses
desconhecidos ,aqueles onde haveria de surgir um universo novo .
Bertrand de Jouvenell ,um dos precursores da
futurologia,trata pela primeira vez e
“A arte da conjectura”do conceito de
incerteza e o poder da imaginação.A primeira de caráter matemático e outro de
psicologia
Jouvennel molda o
termo “futura” como um
prospecção projetiva de caráter
intencional.Fala das clássicas descrições visionárias literárias ou pictóricas como modelos
recorrentes da angustia do não saber ou do vir-a-ser.Esta angustia decorrentes
da atmosfera pos-historica( de que fala Vilem Flusser) que tenta responder –o
que seria do mundo se não houvesse a guerra,ou se os nazista houvessem
vencido?.Esta questão esta presente no filme de Frank Capra “ A felicidade não se compra ,1946 ( It’s a
wonderfull life “) com James Stewart quando o personagem em sua tentativa de
suicídio é interrogado com a pergunta—O que seria do mundo sem vc?
Paul Ricouer coloca a questão da historia como sendo
também de natureza ficcional porem
permitindo que buscar entendamos nossas
própria Du-vidas .
Como Santo Agostinho não podemos saber o que vai ser, mas o
que esta acontecendo e assim pensando determinar o futuro de si.
Charles Jencks em “Architecture
2000” apoiando-se na Semiologia e
na historia e teoria da arquitetura usa
o termo “efeito Édipo” para definir esta noção de projeto de carater intecional
Ao culpabilizar o oráculo (o futurólogo) em Édipo como responsável da tragédia
pois se não tivesse previsto os fatos daquela maneira ,jamais teriam acontecido ou poderiam ter acontecido de
outra maneira.Consciente deste poder o
próprio Jenks se coloca como oráculo editorial da arquitetura contemporânea.
Tais conjecturas estavam ligadas a um projeto editorial cujas conseqüências determinaram a invenção de movimentos arquitetônicos tais
como o pós-modernismo,o desconstrutivismo,o adhocismo, etc
A importância do livro na Cultura Ocidental re-escreve a obra tornado-a escrita.No plano mediático a obra
se transforma em composição visual .Cria-se em seguida uma meta-linguagem com
vida própria capaz de se transformar em outras mais.Um câncer lingüísticos de
proporções incontroláveis.
Na obra de Wim Wenders ,”Um filme para Nick “o diretor
desconstrói totalmente os seus personagens e a sí mesmo utilizando recursos de
escrituralidade (ação gerundica,filmar e em filmando,filmar-se).É um Wim documentando e representando a sí mesmo falando
de um filme que não tem roteiro,de um futuro que não se sabe,documentado
a Nick falando de varias formas de cinematografia,o
vídeo, a pelicula de 35mm,16 mm,super 8,o enredo,o story board e ao mesmo tempo inserindo a Wim Wenders como
ficção e fato real ,alter ego e espélho
de si mesmo
Como Picasso que se retira da obra para que ela possa virar
arte , o “circulo “ de narrativas se dá quando o filme se acaba como projeção.Não há aplausos,só um sofrido
silencio diante do enexplicado que é a morte.
Em NostalgiaTarkovsky fala de um escritor exilado que é o
seu alter-ego pois ele mesmo ,um verdadeiro russo,está para morres de saudades
de sua pátria.
Embora a narrativa biográfica que um artista faça,a
escrituralidade é o tempo necessária para juntar as partes o final é tão sòmente a celebração da escrita,da editoração das partes
O filme ,Utopia que
realizei em Super8 em 1965 possui uma narrativa de incompletude,de muitos cenas filmadas e
não vistas ,porque nunca as projetei.Temia o que tinha captado.Sua edição foi
feita,literalmente, pela colagem de fragmentos de celulóide vistos a olho nu.
Ví o resultado uma
vez só .Vinte anos depois quando passei para VHS diminui de 1 hora para 20 minutos
.Posteriormente fiz outra edição de um minuto e meio onde sonorizei as imagens
. O vídeo tinha uma forte conotação com o judaísmo,com a cabala,com a violencia
no Oriente Médio e a musica de John Lennon ,Imagine interpretada por Madonna
foi escolhida para dar um sentido ao sonho de paz que alentava Imagine .porquê,imaginar
é sempre sonhar eo sonho é uma forma de edição.
Se há um final e se
tristeza e a emoção podem ser
representadas gostaria de reescrever o
filme como um choro.O choro é a lembrança mais ancestral do meu ser e tudo que fiz e que faço se dá
dentro de mim ,dentro do meu peito,no meu coração sistólico e diastólico.O
sentido de ser filho deste universo, pai e pai,”Av” de “Aba” (senhor ,pai do
universo) e se o circulo tambem pode ser representado em trás dimensões gostaria de me fixar em
câmera lenta no ultimo ponto ,a ultima pedra da fuste da abóboda celeste.
E como diz a poesia
de Vinicius de Morais apesar de tudo ser lindo,indizível
Estou triste
O anedótico como
espelho celebra este sentimento mítico da melancolia
Este fechamento é o que considero a escrita do próprio ser
Na dissertação ,Arriscar , a perene alquimia do abrigar,trabalhei
com os fragmentos de uma produção mas sem a a consciência de que havia
encontrado minha escrita ,meu título.
Reconverso com meu
recôndito versar
Assim ao ver ,re-vejo-me
E posso te amar
Proust,(”Em busca
do tempo perdido “ trad Mario quintana) procurava alcançar a substância do tempo para poder se
subtrair de sua lei, a fim de tentar apreender, pela escrita, a essência de uma
realidade escondida no inconsciente
Onde encontramos
uma afirmação sempre descobrimos implicações.Colombo nunca teria chegado à
America ( o espaço profano)através de
mapas medievais desenhadoa
apartir do pa Como referencia fundamental citariamos ,Prous,Em busca do tempo
perdido onde o autor procura alcançar a substância do tempo para poder se
subtrair de sua lei, a fim de tentar apreender, pela escrita, a essência de uma
realidade escondida no inconsciente
radigma auditivo
.Só através do paradima visual
representado pelas tecnica de navegação é que pode transcender o espaço
sagrado revelado pela escuta de percursos ,viajens e fantasias
“Alguém poderia ter refletido sobre a visão,mas
quem poderia refletir.
Sobre o que vê ,por todo o mal que vê” Wallace
Stevens,”Esthetique du mal”
Cit em O espaço
na poesia e na pintura,atravé do ponto de fuga ,Marshall Mac luhan,harlry
parker pg 241
O senhor Jacó recebe um telegrama de seu filho
Moises e o lê com grande revolta
PAPAI,ME MANDE DINHEIRO!!!!!!!!!!
Veja Sara a
gente paga os estudos,os livros, acomida e este sem –vergonha me manda um telegrama DESTES!!!
Aí a mãe lê
Papainheeeee,mamde o dinheirinho
Ah, que filho bom nos temos ,né,Sara...
A mais leve troca
de intensidade produz uma sutil modulação
que nos move ou demove.Qualquer manifestação artistica inclui todos os
sentidos como afirma McLuhan é uma
maquina de educação com o objetivo de exercitar a percepção
“o artista pode ser considerado o piloto que sabe
lidar com a bússola apesar dos desvios
magneticos da agulha provocado pelo
voluvel jogo de forças “...é antes ,o auxiliar indispensável para a ação e
reflexão “ cit Mcluhan
Mcluhan
desenvolve a ideia em “A Galaxia
Gutemberg” onde fala do alfabeto fonético que abstrai a visão do significado.Em
“O alfabeto” David Diringer ,cit no mesmo livro, em oposição a escrita
pictográfica que tende a unir a
sintaxe e a semantica numa especie de
“gestalt”.
O alfabeto
hebraico por outro lado deixa ao leitor a opção sintatica e semantica porque
trabalha basicamente com raizes compostas de consoantes onde o sentido á dado
pelo som fonetico daquele que lê. O
cinema moderno é pictorico e requer a participação continua como no caso de
“Blow up,(depois daquele beijo) A ultima cena onde parece haver um jogo de
tenis se envidencia pela mudança da
posição do rosto diante da bola que
surpendemente se verifica que não existe
.
Mas a pergunta em
Blow up é ,existe?
A televisão a
cores é na verdade a projeção de uma
imagem em direção ao espectador ,assim é a internet ,descontinua
o “percurso do
tempo”(king of the road) de Wim Wenders
contrapõe o tempo do Road movie (automóveis,trens,uma
moto BMW . com a escrita da Galáxia Gutenberg ,maquinas de escrever ,impressoras gráficas,tipos,celulóides de uma película,a
projeção do filme.
A escrita ,o contorno da figura ,além do movimento, é a
trlha sonora,uma musica de rock’and’roll que lembra os originais americanos.Uma
nostalgia do exílio pos guerra e uma
tentativa de reconciliação com o silencio dos perdedores.
Esta escrita esta presente no “Quadros de uma exibição” de
Mussorsky muito antes da invenção do cinema.
O autor descreve o “promenade” dentro de uma exposição de
seu amigo Hartman ,arquiteto,cenógrafo que havia falecido.
Cada quadro é representado por uma composição única que
transcria o quadro original .Ente elas há uma harmonia que une as
diferenças.Kandisky transduziu esta peça
através de um balé de formas unidos por uma única forma pura o circulo fora de
foco.
É similar a solução que Oscar dá ao parque do Ibirapuera
quando articula as diversas construções
através da marquise
A musica e a arquitetura são feitas da mesma substancia
espaço e tempo.
Na musica ,estamos parados e os sons percorrem.Na arquitetura
os elementos estão parados e nos os percorremos.
Tempo-espaço-luz-movimento-corpo são os elementos que compõe
a escrita do cinema,da arquitetura da
dança
Lawrence Halprin em RSVP cycles conduz seu raciocínio da paisagem como um
corpo que percorre a paisagem ,dialoga com espaço,fala com o entorno e dança
nos seus cenários.Juntamente com Ann Halprin
procura entender este
fenômeno como a representação de uma
coreografia e cenografia através de
elementos antropológicos como os rituais,a magia,etc
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