ALGUMAS REFLEXÕES
SOBRE A OBRA DE ANTOINE DE SAINT- EXUPÉRY “O PEQUENO
PRÍNCIPE”, SEGUNDO A CONCEPÇÃO DA TEORIA
PSICANALÍTICA KLEINIANA
Jorge Amaro
Jorge Amaro
ALGUMAS REFLEXÕES SOBRE A OBRA DE
ANTOINE DE SAINT- EXUPÉRY
“O PEQUENO
PRÍNCIPE”, SEGUNDO A CONCEPÇÃO DA TEORIA
PSICANALÍTICA KLEINIANA
Antoine de Saint-Exupéry nasceu em Lyon
há 29 de junho de 1900 e desapareceu, em missão oficial de guerra, há 31 de
julho de 1944. Autor de muitos livros, como: Terra dos Homens, Piloto de Guerra,
Correio Sul, Vôo Noturno, Cidadela e O Pequeno Príncipe. Sua obra
deixa evidente uma experiência humana profunda e inquieta, na qual a solidão, o
silêncio, as imagens do deserto, o problema do tédio e da morte, do prazer e da
liberdade, do sentido da vida são temas constantes.
Jorge Amaro
ALGUMAS REFLEXÕES SOBRE A OBRA DE
ANTOINE DE SAINT- EXUPÉRY
“O PEQUENO
PRÍNCIPE”, SEGUNDO A CONCEPÇÃO DA TEORIA
PSICANALÍTICA KLEINIANA
Nesta obra “O Pequeno Príncipe” o autor
traduz, em termos literários, o diálogo interrompido e reiniciado entre o adulto
e a criança que vive dentro de todos nós. Logo no início, surge a criança que
observa uma gravura de uma jibóia engolindo uma fera. Imediatamente a criança,
por identificações projetivas, estabelece vínculos com a situação da gravura,
onde há um devorador, que é a jibóia, e um devorado, que é a fera. A seguir, o
pequeno menino, a criança
da nossa história, expressa em um desenho, a primeira simbolização concreta de
seu núcleo terrorífico, onde surge uma jibóia digerindo um elefante.
Jorge Amaro
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ANTOINE DE SAINT- EXUPÉRY
“O PEQUENO
PRÍNCIPE”, SEGUNDO A CONCEPÇÃO DA TEORIA
PSICANALÍTICA KLEINIANA
A jibóia passa a ser, por
identificação projetiva, a figura condensada e perigosa da mãe-pai-devorador e a
pequena fera-elefante, a criança-menino devorado. Quando o autor procura relatar
a tentativa da criança de dialogar com os adultos sobre seu desenho e encontra
neles incompreensão e indiferença, está expressando, através destes adultos, as
figuras parentais pouco sensíveis e intuitivas à percepção do mundo infantil.
Isto dificultou o diálogo da parte parental-adulta com a parte infantil-criança
da personalidade para poder fornecer a esta criança meios de desenvolvimento e
de comparação entre o mundo adulto-parental, no vínculo da realidade, com
figuras parentais monstruosas, em relação à criança, no vínculo da realidade
psíquica.
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ANTOINE DE SAINT- EXUPÉRY
“O PEQUENO
PRÍNCIPE”, SEGUNDO A CONCEPÇÃO DA TEORIA
PSICANALÍTICA KLEINIANA
Este diálogo necessário é
expressado nesta obra, como interrompido, em prejuízo do desenvolvimento
harmônico desta criança. Aqui há uma identificação introjetiva de figuras
parentais não sensíveis e intuitivas na percepção dos sentimentos da mente
infantil. Surge uma criança solitária, curiosa e sedenta de compreensão em um
diálogo com figuras parentais-adultas e insensíveis.
Já adulto, a personalidade do
nosso personagem procura viajando pelo mundo todo a busca; mas a busca de algo
não bem esclarecido, a busca de resposta e do reinício deste diálogo
interrompido.
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ANTOINE DE SAINT- EXUPÉRY
“O PEQUENO
PRÍNCIPE”, SEGUNDO A CONCEPÇÃO DA TEORIA
PSICANALÍTICA KLEINIANA
Quando criança, procurava mostrar
o desenho para as outras pessoas e a resposta era sempre a mesma, ou seja, não
compreendiam a comunicação implícita. Respondiam como sempre: “é um chapéu” ,
uma vez que para percepção adulta era um desenho inofensivo e para a percepção
da mente infantil, era a simbolização da mãe-pai-monstro devorador, engolindo
uma fera-criança. Por meio do enredo e dos diálogos surge um homem-criança,
solitário que apresenta-se como que dividido em: uma parte formal-adulta, porém
sem vínculos mais profundos nos seus relacionamentos e um menino-criança, que
busca alguém que o compreenda e um meio para que possa simbolizar e expressar
todo este seu drama psíquico.
Jorge Amaro
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ANTOINE DE SAINT- EXUPÉRY
“O PEQUENO
PRÍNCIPE”, SEGUNDO A CONCEPÇÃO DA TEORIA
PSICANALÍTICA KLEINIANA
Assim se expressa: “Vivi
portanto, só, sem amigos com quem pudesse realmente conversar, até o dia, cerca
de seis anos atrás, em que tive uma pane no deserto do Saara”. Com esta frase
nós constatamos a vivência de solidão deste homem-criança-adulto que necessitava
encontrar alguém sensível para poder reatar este diálogo
interrompido.
A impressão que nos deixa a
leitura deste livro é que neste momento em que surge a cena do deserto de Saara
é exatamente o momento do reinício do diálogo interrompido, ou seja, figuras
parentais e a criança intra-psíquica deste adulto solitário.
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ANTOINE DE SAINT- EXUPÉRY
“O PEQUENO
PRÍNCIPE”, SEGUNDO A CONCEPÇÃO DA TEORIA
PSICANALÍTICA KLEINIANA
Ao surgir um menino-pequeno príncipe, que
aparece subitamente no meio do deserto, inicia-se um diálogo com este
adulto-aviador, o que nos parece que este menino é a simbolização da criança do
aviador em reinício de diálogo com o adulto-figuras parentais do próprio
indivíduo. É um splitting (excisão, separação) de duas partes do mesmo sujeito,
ou seja, a parte criança e a parte adulto-figuras parentais. Esta criança-pequeno príncipe inicia o
diálogo pedindo um desenho de um carneiro. Aqui surge a necessidade da criança
de simbolizar suas vivências, suas fantasias inconscientes como meio necessário
ao seu próprio desenvolvimento.
Jorge Amaro
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“O PEQUENO
PRÍNCIPE”, SEGUNDO A CONCEPÇÃO DA TEORIA
PSICANALÍTICA KLEINIANA
Sabemos, pela contribuição da
psicanálise, especialmente pelos artigos de Melanie Klein que, o amor, desejos
agressivos e libidinosos são transferidos do primeiro e único objeto: a mãe,
para outros objetos e desenvolvem-se novos interesses que se convertem em
substitutos da relação com o objeto primário. Este objeto primário não é só o
bom seio externo, mas também o internalizado. Em todos estes processos, a função
de formação de símbolos e de atividade de fantasia é de grande importância.
Quando surge a ansiedade depressiva e particularmente, como início da posição
depressiva, o ego se sente impelido a projetar, a desviar e distribuir desejos e
emoções, assim como a culpa e um anseio reparador entre os novos objetos de
interesse.
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“O PEQUENO
PRÍNCIPE”, SEGUNDO A CONCEPÇÃO DA TEORIA
PSICANALÍTICA KLEINIANA
A importância da formação e
elaboração de símbolos no desenvolvimento do ego, foi uma das grandes
contribuições à psicanálise por meio dos trabalhos de Melanie Klein.
Nesta história do Pequeno Príncipe observamos
o reinicio da formação de símbolos, da formação de sonhos e do trabalho mental
com estas camadas terroríficas da personalidade. O que nos parece, é que até
este momento o personagem aviador-adulto-figuras parentais de um lado e o
menino-pequeno
príncipe-criança do outro, que deveriam estar integrados dentro de uma mesma
personalidade, trabalhados e amadurecidos, estavam até então, excisados e
estagnados, impedidos desta integração com grandes prejuízos no desenvolvimento
integral da personalidade.
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“O PEQUENO
PRÍNCIPE”, SEGUNDO A CONCEPÇÃO DA TEORIA
PSICANALÍTICA KLEINIANA
Consequentemente a manutenção de
uma criança com o diálogo interrompido com a parte das figuras parentais promove
vivências de solidão.
Quando o adulto-figuras
parentais-aviador relata que estava com dificuldade de desenhar, já demonstrava
nesta expressão que tinha dificuldade de sonhar, de simbolizar. Após várias
tentativas e diálogo entre o aviador-adulto-figuras parentais e a criança-pequeno príncipe surge uma
caixa desenhada, onde dentro estaria preso o carneiro. Observamos que o carneiro
e a caixa se tornaram, por identificação projetiva simbolizada, de partes do
self projetadas.
Jorge Amaro
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“O PEQUENO
PRÍNCIPE”, SEGUNDO A CONCEPÇÃO DA TEORIA
PSICANALÍTICA KLEINIANA
No transcorrer dos diálogos
verificamos que surge um movimento de relação entre o mundo da fantasia, dos
sonhos da criança e o mundo da realidade do adulto. O pequeno príncipe representa
o mundo da fantasia, do sonho da criança e o aviador o mundo da realidade do
adulto que agora começavam a integrar-se. No início os dois mundos estavam
excisados, agora porém, começavam a se integrar. Assim, quando neste livro se
lê: “dia a dia eu ficava sabendo mais alguma coisa do planeta, da partida e da
viagem, mas isso devagarzinho, ao acaso das reflexões, e foi assim que vim a
conhecer no terceiro dia o drama dos baobás”.
Jorge Amaro
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“O PEQUENO
PRÍNCIPE”, SEGUNDO A CONCEPÇÃO DA TEORIA
PSICANALÍTICA KLEINIANA
Todo desenrolar do interesse em
relação a este carneiro para que ele comesse os arbustos, era um interesse da
criança-pequeno príncipe,
de eliminar os arbustos do seu planeta. Nestas condições, o carneiro passa ser a
simbolização de uma função protetora. Quando o autor escreve: “com efeito, no
planeta do principezinho havia, como em todos os outros planetas, ervas boas e
más, por conseguinte, sementes boas de ervas boas e sementes más de ervas más.
Mas, as sementes são invisíveis. Elas dormem no segredo da terra até que um
cisme de despertar. Então ela desperta e lança timidamente para o sol, um
inofensivo galhinho.
Jorge Amaro
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“O PEQUENO
PRÍNCIPE”, SEGUNDO A CONCEPÇÃO DA TEORIA
PSICANALÍTICA KLEINIANA
Quando se trata de uma planta
ruim, é preciso arrancar logo, mal a tenhamos conhecido. Havia sementes
terríveis no planeta do principezinho, as sementes de baobas. O solo do planeta
estava infestado e um baoba, se a gente custa a descobri-lo nunca mais se livra
dele. Atravanca todo o planeta e se o planeta é pequeno e os baobas
numerosos, o planeta acaba rachando. É uma questão de disciplina, dizia o
principezinho, quando a gente acaba a toilete da manhã, começa a fazer com
cuidado a toilete do planeta. é preciso que a gente se conforme em arrancar
regularmente os baobas logo que se distingam das roseiras”.
Jorge Amaro
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ANTOINE DE SAINT- EXUPÉRY
“O PEQUENO
PRÍNCIPE”, SEGUNDO A CONCEPÇÃO DA TEORIA
PSICANALÍTICA KLEINIANA
Constatamos no transcorrer destes
diálogos, que o planeta, a roseira, os baobas, o carneiro, são os elementos
simbólicos por meio dos quais o aviador reinicia o processo de elaboração, o
processo de sonhar e trabalhar com essas fantasias inconscientes terroríficas da
figura condensada mãe-pai-devorador e da criança-devorada. Verificamos também
que, quando se refere ao planeta do pequeno príncipe, há neste
planeta a expressão, na elaboração literária, do processo primário do
inconsciente. No processo primário não há noção de tempo real, não há cronologia
e há predominância do princípio do prazer, enquanto que, no mundo adulto existe
cronologia e a prevalência do princípio da realidade.
Jorge Amaro
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ANTOINE DE SAINT- EXUPÉRY
“O PEQUENO
PRÍNCIPE”, SEGUNDO A CONCEPÇÃO DA TEORIA
PSICANALÍTICA KLEINIANA
Verifica-se por exemplo, a
seguinte frase: “mas do teu pequeno planeta, bastava
apenas recuar um pouco a cadeira e contemplava-se o crepúsculo todas as vezes
que desejava-se. Um dia, eu vi o sol se por quarenta e três vezes”. Portanto,
dentro deste mundo infantil, deste mundo inconsciente, regido por este processo
primário, as fantasias são, de um lado idealizadas e do outro,
terroríficas.
Surge na expressão daquela única
rosa, no planeta do pequeno príncipe a
simbolização, por meio da identificação projetiva do seio bom idealizado, da
figura materna boa idealizada e única.
Jorge Amaro
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“O PEQUENO
PRÍNCIPE”, SEGUNDO A CONCEPÇÃO DA TEORIA
PSICANALÍTICA KLEINIANA
Quando observamos a seguinte
frase: “se alguém ama uma flor da qual só existe um exemplar, em milhões e
milhões de estrelas, isso basta para que seja feliz quando a contempla. Mas, se
o carneiro come a flor, é para ela, bruscamente como se todas as estrelas se
apagassem”. Aqui temos a simbolização da figura materna como o único objeto de
amor e de proteção, e sem ele é a escuridão, é a morte.
A irritação da criança-pequeno príncipe é devida à
falta de sensibilidade e o não entendimento do adulto-aviador-figuras parentais,
da vivência da realidade psíquica desta criança e da necessidade que ela tem
desta fixação como o único objeto de amor.
Jorge Amaro
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ANTOINE DE SAINT- EXUPÉRY
“O PEQUENO
PRÍNCIPE”, SEGUNDO A CONCEPÇÃO DA TEORIA
PSICANALÍTICA KLEINIANA
Nestas condições todo diálogo é
feito no sentido de armar um meio de proteger este objeto de amor, a rosa
ameaçada e também o próprio planeta ameaçado de ser destruído. As ervas de
sementes más e as ervas de sementes boas são os objetos internos que se
exteriorizam no mundo exterior. Os baobas que surgiriam das ervas de sementes
más e que se desenvolviam formando árvores frondosas, foram desenhadas pelo
autor e surge no desenho de uma árvore muito grande e em cima dela um pequeno menino com um
machado.
Jorge Amaro
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“O PEQUENO
PRÍNCIPE”, SEGUNDO A CONCEPÇÃO DA TEORIA
PSICANALÍTICA KLEINIANA
A árvore é a simbolização, por
identificação projetiva da grande e intensa destrutividade expressada por
fatores universais, como voracidade e inveja que no transcorrer do
desenvolvimento do menino-homem ameaçam, não só a roseira (objeto bom
idealizado) como o próprio planeta (o sujeito e o objeto).
As angústias persecutórias são
simbolizadas nos baobas como uma forma de controle e expressão da destrutividade
do ser humano. A figura persecutória central representada pelos baobas
(voracidade, inveja) é acompanhada pelas sementes boas, ou seja, a boa relação
mãe e filho (a gratidão e o amor).
Jorge Amaro
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ANTOINE DE SAINT- EXUPÉRY
“O PEQUENO
PRÍNCIPE”, SEGUNDO A CONCEPÇÃO DA TEORIA
PSICANALÍTICA KLEINIANA
O rito obsessivo da toilete
matinal do pequeno
príncipe, o arrancar de baobas logo que se distingam das roseiras e ainda o pequeno menino com um
machado em cima da árvore para cortá-la, representam os processos primitivos,
onde o ruim tem que ser extirpado, eliminado, onde a convivência integrada do
bom e do mal torna-se impossível. Isto acontece porque o menino e o grande baoba
representam um ego infantil e fraco, frente a fortes forças destrutivas durante
o crescimento.
Jorge Amaro
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ANTOINE DE SAINT- EXUPÉRY
“O PEQUENO
PRÍNCIPE”, SEGUNDO A CONCEPÇÃO DA TEORIA
PSICANALÍTICA KLEINIANA
Inicialmente, o carneiro é
trazido como proteção para comer os pequenos arbustos baobas. Surge aqui o
início do uso da identificação projetiva destes fatores destrutivos que
inicialmente são internos e que agora são projetados e simbolizados externamente
nos baobas. Como a energia expelida é de destrutividade, os baobas se tornam
persecutórios e precisam ser re-introjetados para desaparecer a perseguição
externa. Surge então o carneiro-criança que engole os baobas, come os baobas.
Como vemos as primeiras funções usadas são a identificação projetiva e a
identificação introjetiva.
Jorge Amaro
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ANTOINE DE SAINT- EXUPÉRY
“O PEQUENO
PRÍNCIPE”, SEGUNDO A CONCEPÇÃO DA TEORIA
PSICANALÍTICA KLEINIANA
Esta função de introjeção, de
comer no sentido de devorar e eliminar o ruim, se de um lado protege, de outro
lado ameaça de engolir, de eliminar o bom. Engolir a roseira. É aqui que a mente
primitiva se utiliza de um outro mecanismo, de uma outra função que é a
repressão. Surge a idéia da caixa (repressão) que irá aprisionar o
carneiro.
Ao descrever o planeta surgem os
vulcões onde existem erupções vulcânicas como fagulhas de lareira. Os vulcões
representam as simbolizações dos processo uretrais e anais como funções de
expelir, um meio de expelir partes do self.
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“O PEQUENO
PRÍNCIPE”, SEGUNDO A CONCEPÇÃO DA TEORIA
PSICANALÍTICA KLEINIANA
No transcorrer deste relato
literário surge um momento da separação do pequeno príncipe e a rosa.
Toda separação produz vivências
de perda e expressões de luto. Durante o enredo o pequeno príncipe deveria
sair do seu planeta (mundo infantil) e começar a conhecer outros planetas,
outros mundos (mundo adulto), mas deveria para isto separar-se da rosa. Aqui
surge já a alegoria do processo de separação da criança e o seu primeiro objeto
de amor, ou seja, a mãe e investir em outros objetos, como por exemplo, o pai.
Jorge Amaro
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“O PEQUENO
PRÍNCIPE”, SEGUNDO A CONCEPÇÃO DA TEORIA
PSICANALÍTICA KLEINIANA
Observamos por meio do texto o
equacionamento desta separação com a vivência persecutória de que o objeto de
amor separado, fica ameaçado de morte, ou seja, “os ventos, os bichos, as
plantas más que poderiam destruir a rosa” . Esta separação, por meio de
vivências primitivas equaciona a separação com o objeto de amor ameaçado de
morte, o que fomenta culpa. Verificamos no transcorrer do relato da viagem do pequeno príncipe a outros
mundos, que a simbolização feita inicialmente foi de mundos habitados por
figuras masculinas.
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“O PEQUENO
PRÍNCIPE”, SEGUNDO A CONCEPÇÃO DA TEORIA
PSICANALÍTICA KLEINIANA
O mundo onde havia um rei, outro
um homem muito vaidoso, um outro onde havia um alcoólatra, um outro mundo um
homem de negócios que contava as estrelas, um outro onde havia um homem que
ascendia as lâmpadas. Ao descrever estes diferentes mundos expressava a relação
com o segundo objeto, objeto paterno. Muitas funções foram projetadas nestes
novos mundos. Assim, a função de idealização e onipotência (o rei), a função
narcísica (o homem vaidoso), a função de voracidade (o alcoólatra e o homem que
queria mais estrelas, mais estrelas), a função da omnipotência do pênis (o homem
responsável pela escuridão e pela luz).
Jorge Amaro
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“O PEQUENO
PRÍNCIPE”, SEGUNDO A CONCEPÇÃO DA TEORIA
PSICANALÍTICA KLEINIANA
Quando o pequeno príncipe chega no
planeta terra é uma expressão alegórica de suas relação com outras pessoas.
Quando verificou a existência de dezenas de rosas iguais a sua, era o contato
com dezenas de mulheres semelhantes a sua mãe, ao seu primeiro objeto de amor.
Mas, ao verificar a humanidade desta mãe, de ser uma mulher como as outras e a
desmistificação, caindo portanto a idealização, surge uma depressão na criança.
O texto relata: “e ele sentiu-se extremamente infeliz; sua flor havia lhe
contado que era a única de sua espécie em todo o universo.
Jorge Amaro
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“O PEQUENO
PRÍNCIPE”, SEGUNDO A CONCEPÇÃO DA TEORIA
PSICANALÍTICA KLEINIANA
Eu me julgava rico de uma flor
sem igual, e é apenas uma rosa comum que eu possuo. Isso não faz de mim um
príncipe muito grande e deitado na relva ele chorou”. Verificamos aqui, o
sofrimento pela desidealização do objeto materno.
O texto a seguir promove o
diálogo entre a raposa e o pequeno príncipe. De um
lado, aparecem homens que com os seus fuzis caçam e matam raposas, e a raposa
que por sua vez, caça, mata e come galinhas. Então verificamos que através deste
diálogo surge um mundo de realidade de ser morto e devorado, onde há um
devorador e um devorado.
Jorge Amaro
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ANTOINE DE SAINT- EXUPÉRY
“O PEQUENO
PRÍNCIPE”, SEGUNDO A CONCEPÇÃO DA TEORIA
PSICANALÍTICA KLEINIANA
Através desta munição de
realidade do mundo cotidiano, o texto procura demonstrar a reedição do processo
devorador-devorado.
No diálogo entre a raposa e o pequeno príncipe, surge a
expressão cativar. O texto assim descreve: “é uma coisa muito esquecida, diz a
raposa. Significa criar laços. Tu não és ainda para mim, senão um garoto,
inteiramente igual a cem mil outros garotos e eu não tenho necessidade de ti e
tu não tens necessidade de mim, não passo a teus olhos de uma raposa igual a cem
mil outras raposas, mas se tu me cativas nós teremos necessidade um do outro;
serás para mim único no mundo e eu serei para ti única no mundo. Existe uma
flor, disse o menino, eu creio que ela me cativou”.
Jorge Amaro
ALGUMAS REFLEXÕES SOBRE A OBRA DE
ANTOINE DE SAINT- EXUPÉRY
“O PEQUENO
PRÍNCIPE”, SEGUNDO A CONCEPÇÃO DA TEORIA
PSICANALÍTICA KLEINIANA
Surge aqui a primeira
manifestação da elaboração da maneira de criar vínculos. De um lado, um vínculo
destrutivo, caçador e caçado, devorador e devorado e de outro, um vínculo
amoroso cativar e ser cativado, que estão excizados (splitting). Assim, ao
elaborar o processo do vínculo amoroso e do vínculo destrutivo, constatamos no
texto: “ mas se tu me cativas minha vida será como que cheia de sol. Conhecerei
um barulho de passos que será diferente dos outros. Os outros passos me fazem
entrar debaixo da terra, o teu me chamará para fora da toca como se fosse
música”.
Jorge Amaro
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ANTOINE DE SAINT- EXUPÉRY
“O PEQUENO
PRÍNCIPE”, SEGUNDO A CONCEPÇÃO DA TEORIA
PSICANALÍTICA KLEINIANA
Em uma outra parte do texto
constatamos: “o trigo para mim é inútil, os campos de trigo não me lembram coisa
alguma, mas tu tens cabelos cor de ouro, então será maravilhoso quando me
tiveres cativado. O trigo que é dourado fará lembrar-me de ti e eu amarei o
barulho do vento no trigo”. Verificamos aqui que surge a vivência do vínculo
amoroso e a vivência da saudade da relação com o objeto bom. Constatamos também,
pelas expressões simbólicas no texto a função de responsabilidade pelo vínculo e
pelo objeto. No texto lemos: “então tu te tornas eternamente responsável por
aquilo que cativas. Tu és responsável pela rosa”. Surge então a
responsabilidade, a culpa na vivência com o objeto de amor, a vivência com o
objeto bom.
Jorge Amaro
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ANTOINE DE SAINT- EXUPÉRY
“O PEQUENO
PRÍNCIPE”, SEGUNDO A CONCEPÇÃO DA TEORIA
PSICANALÍTICA KLEINIANA
O objeto bom precisa ser bem
diferenciado do objeto único primário materno idealizado, ou seja, a
desmistificação do objeto materno idealizado. Em última análise o processo de
poder manter o vínculo amoroso em supremacia ao vínculo destrutivo, porém não
por meio dos processos primários, onde há um único objeto sem o qual tudo é
escuridão e morte. A própria escolha do deserto como meio para simbolização e
psicodramatização deste drama é também a simbolização e a expressão do seio
seco, esvaziado, perdido e a busca de um poço onde houvesse água; era a busca e
o reencontro com o seio bom, cheio de leite.
Jorge Amaro
ALGUMAS REFLEXÕES SOBRE A OBRA DE
ANTOINE DE SAINT- EXUPÉRY
“O PEQUENO
PRÍNCIPE”, SEGUNDO A CONCEPÇÃO DA TEORIA
PSICANALÍTICA KLEINIANA
Surge neste deserto o diálogo
entre o pequeno príncipe
e a serpente. A serpente fala por enigmas. No texto lê-se: “mas por que falas
sempre por enigmas? Eu os resolvo todos, disse a serpente”. Verificamos aqui o
problema da esfinge, o problema do segredo, o segredo que deve ser decifrado. A
serpente está representando, portanto, também a elaboração do segredo, a mãe que
tem o segredo da fecundidade, da vida e da morte. Assim, lê-se no texto: “aquele
que eu toco eu devolvo à terra de onde veio, continuou a serpente”. A mãe que
devolve a criança para dentro do útero, para aquele mundo maravilhoso da relação
mãe e filho; a volta àquela vivência de paz total, a volta ao idealizado.
Jorge Amaro
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ANTOINE DE SAINT- EXUPÉRY
“O PEQUENO
PRÍNCIPE”, SEGUNDO A CONCEPÇÃO DA TEORIA
PSICANALÍTICA KLEINIANA
Esta regressão representa no
desenvolvimento da criança a morte, portanto, buscar isto, trabalhar por isto é
buscar a própria morte. A cobra representa, ao mesmo tempo, a busca da morte. O
pequeno príncipe se deixa
picar voluntariamente pela cobra, para viajar e aproximar-se de novo da mãe
idealizada da rosa e planeta da infância. É retornar ao mundo fantasioso
idealizado do processo primário, a um retorno ao estado anterior, primitivo o
qual está diretamente relacionado com o instinto de morte.
Jorge Amaro
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ANTOINE DE SAINT- EXUPÉRY
“O PEQUENO
PRÍNCIPE”, SEGUNDO A CONCEPÇÃO DA TEORIA
PSICANALÍTICA KLEINIANA
A impressão que nós obtivemos
deste trabalho de Antoine de Saint- Exupéry é que o autor
procurou elaborar, com seu gênio literário toda uma estrutura psicodinâmica
humana. Sabemos que o mundo da realidade é um mundo relativo, é um mundo
limitado e o mundo da realidade psíquica é um mundo ilimitado, é um mundo
atemporal. O corpo, as coisas da terra, são coisas relativas e limitadas.
Jorge Amaro
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ANTOINE DE SAINT- EXUPÉRY
“O PEQUENO
PRÍNCIPE”, SEGUNDO A CONCEPÇÃO DA TEORIA
PSICANALÍTICA KLEINIANA
Ao expressar: “eu não posso
carregar esse corpo, é muito pesado, mas será como uma velha casca abandonada,
uma casca de árvore não é triste”. Observamos aqui a desvalorização do corpo e a
desvalorização da limitação no mundo da realidade e a super valorização daquele
mundo idealizado, da volta aos objetos primários, aos objetos idealizados, ou
seja, a busca da morte.
Jorge Amaro