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terça-feira, 14 de setembro de 2010

BAL,mel

BAL,mel
Um filme sobre a doçura , afeto e o som do silencio
Qual é a relação desta narrativa que começa com a morte e termina com o sono ambos ligados à uma arvore?A primeira cena é um galho que se quebra e um corpo que cai e a ultima é um garoto dormindo junto a uma imensa arvore.O que significa isto?qual é sua mensagem .Qual é o som desta cena?o que pode dizer o silencio de uma arvore?
Esta narrativa é construída pelo som ,pelo sussurro das relações entre o homem e a natureza.
O que significa o caminhar pelos campos de trigo.Êles dizem alguma coisa?Qual a importância do gorjear de um falcão que indica os caminhos certos
O que permeia todo o desenrolar deste filme é a doçura e afeto na relação de um garoto com dificuldades para se expressar verbalmente .Yusuf sabe ler , ouvir e ver muito mais do que a maioria das pessoas, Yusuf se comunica através do silencio,observa o mundo,os elementos que o compõe,seus espaços ,objetos,instrumentos com uma delicadeza própria de uma criança singular que brinca com um cuidado único.
Não há um único sorriso no filme
É um filme sobre a lingua a fala a escrita e a linguagem cinematográfica
O mel é o fluido desta cultura e seu produtor Dos insetos conhecidos sabe-se que a abelha parece ter sua forma peculiar de se comunicar entre si mas é o que produzem que tornam o homem mais terno
É um filme onde alguém que não sabe se relacionar com o mundo pela fala pode entender a dimensão do afeto mais silencioso da natureza,das plantas,flores.
Há um mito paradoxal na afirmação do pai de que os sonhos não podem ser contados.De certa forma os sentimentos mais fortes não podem ser representados
As imagens parecem com quadros expressionistas ,escuros,focados em alguns elementos.O autor está dizendo,ou melhor,ensinado o espectador a observar as pequenas coisas iluminadas
É interessante a relação que o autor faz entre a gaguice e o acender e apagar das luzes como se fosse um exercício de observação diferenciado.Entre o todo iluminado,o que se pode ver em segundos e a memória
O cuidado que o diretor tem com seus personagens faz com que cada momento seja um capitulo.O exemplo mais forte é a beleza da integridade do professor que tem afeto por seus alunos e os ensina a não excluir ninguém.Na premiação final (tão desejada por Yusuf) há somente misericórdia,afeto compartido por uma comunidade que intui é o que é o amor.
A beleza é doce como o mel.A oração das mulheres re-escreve através do mito do anjo Gabriel a dor da perda.As danças de roda ,o enrolar das cordas o ascender dos objetos por cordas e o baixar dos favos de mel e sua arquitetura , o prazer de prová-los
O afeto que Yusuf tem por seu amigo Hadim é tão grande a ponto de presenteá-lo com o que tinha de mais valioso,um navio O ouvir da poesia da coleguinha e sua perseguição até encontrar uma grande ponte e o sentir suave do laço perdido pela menina e o exercício de cegueira,outra maneira de enxergar o mundo
O filme se desenvolve vagarosamente para que o espectador saboreie as cenas como pinturas ou cartões postais da época Otomana.
A relação entre Yusuf e seus pais é tão amorosa e os momentos que mais nos comovem é quando o colocam sobre seu colo ou o colocar suave da mão na cabeça ou o sussurrar ou a cumplicidade doce do copo de leite.Cenas tão lindas vivenciada pelos privilegiadas que já tiveram pais ou avós
Esta imagem quase desapareceu no mundo ocidental substituída tão somente pelo castigo ou a sexualidade.Lá Yusuf tem seu lugar,seu pedestal que não é o mesmo da sociedade tão somente verbal
Diferentemente da cultura ocidental que exige um começo,meio e fim esta narrativa não é um mosaico com flash-backs usuais mas é a colocação de uma pergunta.O que aconteceu no começo e qual o significado do fim ?
Para o Yusuf foi a descrição proibida do sonho por sua mãe relatando o encontro de todos na floresta colhendo e saboreando o mel. Descrever nesta cultura é prever de certa forma e determinar o futuro no tempo e espaço
Dormir com um árvore é guardar os sentimentos mais profundos e transcendentes e procurar entender de outra forma o mosaico de sons num contexto de dor .
Abracei a grande árvore que vejo todos os dias em minha casa.Ventou a noite toda,ouvi o cair dos galhos e o som dos pássaros noturnos.Quando abri a veneziana vi os galhos e folhas dispostos como uma obra divina.Resolvi andar descalço e ouvir
a lição deste doce filme.Ouvi as Jatobás minha lindas amiguinhas que se mudaram há anos entre os tijolos da casa.Imaginei quanto mel deveria ter.Olhei seus lindos pórticos de cera,suas vizinhas formigas com sua arquitetura e as teias das aranhas.Neste momento caiu de repente um maracujá .Era doce,muito doce.Lembrei-me de meu pai e o enorme caramanchão de maracujá que tínhamos na Vila Mariana e de como pegava a fruta transferindo-a com todo cuidado com suas mãos de alfaiate e escritor e como saboreei esta fruta me lembrando desta mesma doçura e elegância .Preparei um suco para minha filha mas acabei servindo aos meus amigos mas há muitos ainda no chão do jardim.

BAL,mel