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quinta-feira, 16 de março de 2017

alhos com bugalhos

 

Alhos com bugalhos ,uma tentativa irresponsável de relacionar paradoxos da vida comum e as questões metafísicas da criação artística.


Just as the majesty of mosaics remains despite their fragmentation into capricious particles, so philosophical reflection need not be concerned about its vitality”  W.Benjamin (Origin, 28). Selecte Wriings

"Incansável, o pensamento começa sempre de novo, e volta sempre, minuciosamente, às próprias coisas. Este fôlego infatigável é a mais autêntica forma de contemplação. Pois ao considerar um mesmo objeto nos vários estratos de sua significação, ela recebe ao mesmo tempo um estímulo para o recomeço perpétuo e uma justificação para a intermitência do seu ritmo. Ela não teme, nessas interrupções perder sua energia, assim como o mosaico, na fragmentação caprichosa de suas partículas, não perde sua majestade. Tanto o mosaico e a contemplação justapõem elementos isolados e heterogêneos, e nada manifesta com mais força o impacto transcendente, quer da imagem sagrada, quer da verdade. O valor desses fragmentos de pensamento é tanto maior quanto menor sua relação imediata com a concepção básica que lhes corresponde, e o brilho da representação depende desse valor da mesma forma que o brilho do mosaico depende da qualidade do esmalte."
(Walter Benjamin) Selected writings


"(...) E nem julguem que alhos e bugalhos são coisas diferentes, são reflexos diferentes da mesma coisa. Como num mosaico incrustado de espelhos. Explico: quando se tira um pedacinho dum mosaico, não se percebe, olhando só para o pedacinho, que faz parte do nariz e por isso pode perfeitamente passar a fazer parte de qualquer outra imagem para que seja necessário, mesmo num mosaico sem nariz. É certo que também se poderia ir retirando do mosaico todos os pedacinhos, como ao gato que sorria tanto para a Alice que acabou só sorriso sem gato. Mas os gatos são gatos e sorrisos nem sempre. Por isso o sorriso hamletiano de Yorick transmigou para a página em preto e branco de Sterne, donde ressuscitou como mestre tutelar dos sorrisos oblíquos. Além de que é minha firme convicção de que, num mosaico com nariz, o nariz precisa do seu pedacinho. Faço isso por voto solene de que irei trazendo para este meu mosaico todos os pedaços necessários para nariz, olhos, dentes, boca, só que não obrigatoriamente nesta ordem e nem sempre pertencentes ao reflexo fictício do mesmo rosto. E terá de ser o leitor a encontrar os espaços mais adequados para colocá-los, segundo o amor tiver".
(Helder Macedo)






Devo a Gilberto Freyre a inspiração e a coragem para enunciar  minha primeira tentativa de estabelecer uma ordem ou sentido na prolixa relação de fatos e produtos que constituem o que chamam nossa vida real e ao universo que se não for real ou imaginário uma ficção construída que se aproxime daquilo que desejamos     Porque é no desejo que se encerra a semente das grandes sonhos Não esqueci de Walter Benjamim ou Helder Macedo como introdução porque são autores que só e tão somente retificaram a minha crença que existe uma ordem superior que se não for divina é plenamente artística mas como metodologia “Alhos & bugalhos ” Ensaios sobre temas contraditórios: De Joyce   à Cachaça,de José Lins do  Rego ao Cartão Postal.é a referencia primeira àquele que desejem libertar-se das obviedades e da burocracia
O que torna fascinante esta obra ,não a mais importante ou conhecida do autor é  a nítida impressão que falar de coisas diversas é um estagio de grande sabedoria dos mestres que parece m  se deleitar com o sabor das descobertas insólitas e sua relação com o imenso arcabouço que a história,a filosofia e a literatura lhes dá .Porque o sábio como o artista transforma uma folha em branco numa Mona-Lisa ou Gioconda assim como o ignorante é incapaz de sentir a mínima emoção diante da obra dos grandes mestres.
 Após uma defesa de tese de doutorado sobre filosofia grega ouvia ,na surdina,atentamente as discussões da banca  que me soavam encantadoras pois tratavam de uma  metafísica dos vazios .Perguntei aos mestres de que falavam e este me responderam- do jogo do Palmeiras e Corinthians .Ou seja através do filtro sábio um jogo de bola se tornara uma fantástica discussão sobre os vazios  como o são os vazios de um dança  onde bailarino e espaço se encontram com a musica ou  sons da multidão no estádio  .Lembrei-me do dito cabalista que diz que é preciso não só aprender as letras pretas mas também aprender a ler as letras brancas.
Encontrar no canto ,porão ou sótão daquilo que vivenciamos e produzimos e entender a intima relação dos mistérios ,do insólito ,das sincronias é talvez a arte suprema, privilégio de poucos assim como a liberdade o é para poucos.
Acho que a minha qualidade maior de viajeiro, daquele viajeiro sem planos ou guias me aproximaram de um mundo de acasos e sinais destas relações que para mim determinaram minha relação  com o mundo e se há um guia para o descobridor colocaria na obra de H.Hesse “o guia dos Ociosos” minha outra inspiração para esta doce irresponsabilidade .
Viajar para mim passou a ser o exercício da liberação das ansiedades e angustias  e se para alguns possa parecer estranho Poços de Caldas foi a minha grande experiência de liberdade aos 9 anos e esta cidade tornou-se minha referencia de peregrinação porque foi lá na escuridão do antigo hotel Lealdade que descobri o sabor do mistério, da água ,de meu corpo.
Durante anos lutei sendo um mau aluno e depois bom e depois não querendo mais estudar e trabalhar para poder curtir o centro de São Paulo,o edifício Santa Helena ,e a companhia  onírica da sessões do cine  Sta Helena e me transformar num sebologo nesta constate descoberta e esperança de um sinal nas estantes das livrarias e bibliotecas .
Mas há um trabalho de peso que ensina aos iniciados como se pode encontrar sinais no próprio espaço pois ele ,como o tempo, organiza o nosso ser e embora confundamos com o físico ,o material ele esta mais para a poesia ,na imagem,no cinema e principalmente na memória como peça do mosaico fractal que esta ali e acolá e
Lembrando que somos sempre os autores desta arquitetura imaginária.
“O homem esta no céu ,assim como o céu está no homem ”é a lição que Bachelard nos dá no seu “Poética do espaço” ,Esta obra se tornou meu livro de cabeceira ,minha bíblia diante da  inquietude como professor sobre o que era afinal a arquitetura .Quem entende só arquitetura não entende nada de arquitetura. Roubei-a de uma outra que se referia a filosofia.
Pois quanto mais definamos a arquitetura mais nos aproximamos da filosofia. .É certo que os profissionais arquitetos a reduziram a edificação mas quanto mais sábios se tornam mais  se aproximam do nada ,do vazio.E eu que já tive o privilegio de conhecer  a obra de Le Corbusier até em Chandigar me convenci  ao visitar a “le cabanom”, sua casa  na costa azul ,onde morreu e entender caminhando alguns quilômetros até seu atelier ,um simples cubo diante de uma paisagem maravilhosa, a semelhança com uma peregrinação no encontro com nós mesmos.

 

 

Anseio


Diz o poeta , que a palavra anseio vem diretamente da origem materna .O seu seio.
Portanto ao analisarmos as nossas ansiedades como motivadoras da nossa ação criativa necessitamos uma compreensão maior deste ato ancestral que é o alimento que jorra deste circulo no seu ponto focal.
Afora seu significado imediato de fonte de alimento materno “no seio” também significa  sua mais profunda presença e ao representarem-no como circulo e um ponto podemos deduzir duas opções ,como algo em expansão ,ou centro de atração O espaço vazio  sempre potencial ou o espaço vazio a ser preenchido.
Para encontrarmos a plenitude  expressa nesta permanente presença  devemos  procurar na nossa  origem os dois pólos que nos compõem,mater,pater,anima,animus.
Lembraremos que a palavra mater vem do sanscrito “matr” ,útero e pater como a substancia divina que se colapsa  nesse encontro de vida.
Não confundirmos esta substancia etérea, quântica com as imagens deturpadas que a sociedade quer impor  como elementos diferenciados entre um do outro.
Pai e mãe estão intrinsecamente unidos em nós e na nossa relação com o mundo e como fulcro de percepção da sacralidade ancestral e o futuro como elemento de continuidade desta mesma fonte
Há uma definição de sagrado . -“É o traço sutil entre o conhecido e o desconhecido....
Portanto esta linha quase desaparecida é que liga o passado ao futuro sob a forma de arquétipos ou mitopoética ou uma mitologia em constante recriação .Não é por acaso que ela se manifesta em labirintos e mandalas.
Há nesta linha sutil um poder de desenhar-se manifestando-se como rito ,imagem , arte ou arquitetura e notadamente como sonho e projeto.
O encontro com os mortos que se nos apresenta como tabu pavoroso deverá ser substituído pelo equilíbrio com a meditação sobre nós mesmos, o que fizemos e se o não fizemos.,sonhamos
Entretanto o sagrado como experiência nem sempre pode ser representado. É uma lembrança incompleta
Há uma estória hassídica  que diz que ao nascermos sabemos tudo e aí vem um anjo e assopra e esquecemos tudo .A vida é então um eterno relembrar do que já sabemos...e a respiração o pulsar desta força resguardada por anjos escondidos .A vida uterina seria a expressão da plenitude e da                atemporalidade.e lembrar é primordialmente um ato de sentir e pensar. Um constructo pessoal no tempo e espaço  E desta forma é arte como nos lembra Argan.
O mito do eterno retorno é um ato constante de relembrança criativa reunindo os fragmentos da racionalidade que nos separam da divindade
Nossa educação tem pautado por um esquecimento do essencial para dar lugar ao óbvio.
A religião que se arvora detentora dos mistérios da sacralidade  esconde os sinais dos sendeiros da iluminação.
A religiosidade porem  deve fazer parte desta nova pedagogia dos descobrimentos angelicais e a sacralidade não pode mais ser confundida como o substituto desta experiência do descobrimento.
Como exemplo desta peregrinação pelo mistério do sagrado lembraria o filme de Tarkovsky “Stalker” quando um cientista, um filosofo e um sensitivo percorrem caminhos tenebrosos em busca de uma resposta. A ciência  e a filosofia jamais poderão entender a sutilidade dos sinais num mundo aparentemente sem ordem representados por um cenário caótico de ferro-velhos ,entulho e lama.
O tempo é fornecido ao espectador como exercício estético de transcendência onde o roteiro é secundário .O espectador chega a exaustão e pela exaustão ao êxtase .
No plano arquetípico  poderiamos encontrar nos 14 estações ,ou passos na “Paixão de Cristo” uma similaridade com esta procura pelo êxtase .
Embora representadas bidimensionalmente nas igrejas e templos são os espaços de peregrinação um simulacro da Jerusalém prometida.
Mas Tarkovsky que viveu no momento mais tenebroso da repressão estalinista mostra-nos através da arte  o exercício que cada um pode fazer para encontrar sua Jerusalém ( a cidade da paz ) como uma filologia das imagens
Para Joseph Brodsky ,escritor russo ganhador do prêmio Nobel de Literatura o “Filólogo é um advogado do espírito” .Ao decodificar as palavras ,os sons primários como os teatrologos  decodificam os gestos e seus sons numa multitude de relações onde o roteiro é secundário revelando-nos no rito  a única maneira de defender o espírito em sua essência
No meu artigo “ a perene alquimia do construir” publicado na revista AU descrevo minha experiência particular de encontrar o sagrado na construção do espaço e uma outra rica experiência de exercitar  meus alunos nesta mesma procura .Foram quase 20 anos de trabalho
Os resultados foram muitas questões e  diversas indagações das quais ainda não tenho resposta.
Um dia uma aluna da PUCC  me mostra uma xerox desbotada   e diz que foi um amigo de Londrina que lhe havia enviado como ilustração de algo novo e interessante e da qual sobre o autor gostaria de saber algo mais. Surpreso percebi que se tratava do mesmo artigo e ao rele-lo pensei em saber algo mais sobre mim mesmo depois de todos estes tempos .
Lembrei-me que ele surgiu de uma gravação que o editor  havia feito sem me consultar e depois ao enviar a transcrição afirmar que minhas palavras eram mais interessantes que o texto teórico que eu havia escrito.
Em outros termos o que eu falara era mais interessante do que escrevera.
De fato eu falara com o coração com o mesmo ímpeto em que faço minhas solitárias poesias ou pinturas
 Gilberto Freire em “Alhos e bugalhos” antecipou esta conclusão ao advertir-nos sobre a carência de bons escritores na vida acadêmica.Com sua mordacidade peculiar fala de Eça de Queiroz –que não gostava de ser considerado nem literato nem letrado -e sim artista .Com tantas normas de elaboração acadêmica  o que desejamos expressar  na nossa mais profunda essência poética com nosso ardor sensual, plastico, interpretativo ,místico e até filosófico como artistas  que somos fica reduzido a mecanicidade dos textos ,registros documentais, subsociologias em subcriativos sociologues  ou subfilosofias traçadas em filosofês e tratatos de subarquitetura em arequitetês .
Sou muito grato ao editor pela corajosa advertência  pois ao falar ,neste artigo, de uma outra maneira de conceber o espaço sem a noção clássica do projeto e desenvolver com os alunos uma experiência de construção e ocupação do espaço sem os tradicionais mecanismos como o desenho eu de certa forma contestava a noção clássica de Arquitetura como uma atividade surgida no Renascimento e todas as definições ,conceitos e normas que sustentam-na como campo de investigação e atividade profissional da edificação
Estou convicto que a construção do nosso espaço é uma atividade mágica com poderes de transformação dos indivíduos  e que a intervenção de estranhos com métodos e raciocínios alheios ao ritual pode comprometer o resultado da interação .E Projetar como entendemos modernamente subtendendo-se  como controle  de um processo com objetivo de atingir uma idéia  preconcebida não necessariamente uma experiência de auto-conhecimento Embora possa haver múltiplas idéias que revelam nossa história é na ação sem controle que se expressa esta relação que chamamos mágica.
O conceito de magia  deve ser entendido dentro de uma perspectiva psicológica onde o foco é o processo de (Syn balo  com jogo) .A grande questão é entender como se dá este processo lúdico de significação e em que medida ele passa a ser a referencia de uma estrutura que sustenta o indivíduo e sua relação com o mundo. e ao contrário da diabolização (dia-balo sem jogo) que separa ,fragmenta ,a simbolizarão é a qualidade humana que  da sentido, ordem  as partes
Entender como Huizinga  em seu “Homo Ludens” a natureza lúdica de nossas relações com o sagrado e a  contrapartida “História do diabo “ de Villem Flusser que trata das questões que levaram o homem a criar a civilização ou o mundo profano como duas faces da constituição humana
A  Arquitetura  muito antes de sua constituição como campo se aproximava ao que nos estamos referindo  tendo permanecido  como forte referencial  na Maçonaria,  na Teosofia e outros manifestações esotéricas como metáfora do desenvolvimento humano ou a busca do sentido no universo aparente.
É curioso o uso que os advogados fazem  dos termos arquitetura e  engenharia jurídica Esta entendida como o normas, leis e procedimentos e a primeira como o seu sentido alocando-se no campo da Filosofia do Direito diante dos seus  evidentes paradoxos  .O que de certa forma se aproxima dos conceitos contemporâneos da Arquitetura como um campo da Linguagem com uma codificação, sintaxe e semântica.
Mas a busca do sentido através da construção não é a repetição mecânica de modelos formais mas a acurada percepção dos fatores  elementais que determinarão uma solução formal. A terra, o ar, luz,  sol ,o vento,  o entorno e a nossa história com todos os nossos arquétipos ancestrais.
A decisão de não fazer um projeto no sentido clássico passou entretanto pela grande incapacidade de definir um espaço adequado que atendesse as minhas complexas contradições .Ou seja, não sabia quem eu era evidentemente e construir sem enfrentar esta realidade me parecia uma grande tolice ou perda de oportunidade.
Construir é tratar com todas as experiências de espaço e tempo na nossa vida, do útero, as primeiras luzes e sombras ,os primeiros passos ,a percepção do ambiente que nos cerca ,nossa vizinhança  ,a cidade, o território como primeira compreensão da virtualidade ,as nossa viagens internas e externas.
A primeira experiência alquimista da construção foi com meu primeiro sócio que costumava guardar os materiais das reformas que fazíamos de instalações bancarias e comerciais num depósito e nos fins de semana distribui-los no seu centro espirita aos favelados que viviam nas imediações do centro . Convidou –me para orienta-los e eu me esforçava para imaginar o uso que poderiam ter as  imensa vigas de aço ou  os vidros temperados. Este exercício de uso potencial dos objetos me parece um dos grandes aprendizados que tive em minha vida.
Bernard Rudofsky  autor de “Arquitetura sem Arquitetos” foi um dos grandes precursores dessa abordagem antropológica da arquitetura que se seguiu por um série de publicações como “Arquitetura animal” ou “Arquitetura vernacular”  e uma apuração do olhar diante das construções não planejadas por profissionais mas que detinham uma riqueza de elementos estruturais e uma beleza inconteste. Rudofsky que havia viajado pelo mundo e inclusive vivido no Brasil onde projetou diversas residências começava a contestar as teorias modernistas, funcionalistas e racionalistas com seus princípios dogmáticos de projetação da habitação e da cidade.
Frank Lloyd Wrigth talvez tenha sido o grande exemplo da necessidade de renovação dos conceitos de pensamento e concepção do espaço ao propor-se junto com um grupo de discipulos uma viajem de Chigago ao Deserto de Arizona para a construção de uma nova escola,Taliesin West. F.L.Wrigt adepto das idéias de Gurdjief entendia a profunda necessidade desta viajem (onde se discutiram questões de natureza filosófica fundamentais) e a ocupação do sítio através de barracas e a construção com os materiais locais interagindo com elementos da natureza com a mais profunda intensidade.
Foi precussor das ideias de Paolo Soleri para o Arcosanti e sem dúvida uma inspiração para o arquiteto e pintor austriaco Hundertwasser.
Não podemos nos esquecer das projeções futuristas de Charles Jenks no seu
Arquitetura 2000 e seu “efeito édipo” ao discutir como uma das tendências  futuristas o que chamou de Adhocismo referencia a arquitetura “ad hoc”  realizada com a sucata da sociedade consumista
Nos arquétipos bíblicos encontramos exemplos magníficos  de inspiração na concepção de espaços.
A começar da Arca de Noé  que é o arquétipo primordial da Arca da Aliança .
Na torre de Babel como arquétipo de nossa própria confusão de línguas ou linguagens produto de nossa pretensão egoica de se apoderar do céu desconhecido.
A escada de Jacó  como símbolo de ascensão e predecessor do calvário de Cristo
O tabernáculo  como universo simbólico  e simulacro da arquitetura divina.
Foi Filon de Alexandria o primeiro a encontrar na arquitetura do  Tabernáculo os sinais que  nos permitiriam entender os mistérios da criação divina.
Podemos portanto encontrar na estruturação dos espaços razões de natureza  ancestral  diversas das razões de natureza funcional ou estética.
Reconhecer a importância dos mesmos na nossa própria história pode contribuir para entendermos os  nossos desejos de  representação ao organizarmos nosso próprio espaço.

A Bessarabia ou a Moldavia como a designam atualmente não tem belezas  naturais memoráveis .Sua paisagem é repetitiva e monótona mas sua pequenas vilas e seu povo guardaram elementos simbólicos que a globalização já há muito destruiu em outras partes do mundo .Não há edificação que não tenha seu poço postado a sua frete como um templo de culto a água sempre  a disposição dos passantes.  Ricamente ornamentados sobreviveram as terríveis guerras de destruição. Não há bombas de recalque mas o mesmo sistema arcaico de baldes puxados por cordas .É um espetáculo lindo ver as moças retirando pausadamente baldes e baldes. Adentrando as edificações ,as parreiras de uvas que cresciam as vezes até os altos andares das cidades grandes e as adegas onde se faziam os soberbos vinhos com diferentes sabores  a demonstrar a relação entre a terra ,a água ,o sol e todos os elementos. É uma experiência única beber o vinho na mesma terra em que é produzido.

Antes mesmo de pensar em construir a casa  contratei um poceiro e este com a ajuda de uma forquilha insistiu em escava-lo bem ao centro do terreno.
Não adiantaram meus argumentos pois segundo ele se não fosse ali ele não o faria.
Assim o meu poço foi escavado bem no centro do terreno para escárnio de todos os colegas arquitetos
O poço foi(e é) a referencia de todo processo de construção da casa.
A casa não seria o que é não fosse a insistência deste xaman das águas
A água como o batismo é o renascimento constante .Trata-la como uma questão hidráulica é simplesmente desconhecer o poder deste elemento
O poço participa de diversas maneiras no nosso inconsciente. A expressão –“estar no fundo do poço” parece referir-se ao ponto máximo de tolerância mas também o ponto de reação. A água na história além das necessidades de sobrevivência trouxe uma contribuição para a cultura da saúde do corpo através das termas e balneários .
O poço está no centro do octogono do I ching  comumente representado nas moedas chinesa octogonais com um furo no meio e é também associado a ideia  de alma (representada também como um circulo,o vazio, e o ponto a alma).
Ao contrário das grandes obras arquitetônicas que confundem a qualidade do espaço com o resultado ou o valor do ambiente.Aquilo que o rabino Henshel chamou de “arquitetura do tempo” em contrapartida à “arquitetura do espaço”.Na primeira está a relação do indivíduo ou  protagonista com o universo ou como escreve Helder Macedo uma parte do grande labirinto e a outra o totem que ilude o sentido das coisas.
Cada vez mais se constroem torres de Babel  impedindo o diálogo do humano com estas esculturas inúteis.
Qual é o significado destas obras cercadas de favelas e refugiados?
Em contrapartida o universo temporal das etnias do deserto e da Amazonia procuram manter sua arquitetura do tempo.




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