Alhos com bugalhos ,uma tentativa irresponsável de relacionar paradoxos da vida comum e as questões metafísicas da criação artística.
“Just as the majesty of mosaics remains despite their
fragmentation into capricious particles, so philosophical reflection need not
be concerned about its vitality” W.Benjamin
(Origin, 28). Selecte Wriings
"Incansável, o pensamento começa
sempre de novo, e volta sempre, minuciosamente, às próprias coisas. Este fôlego
infatigável é a mais autêntica forma de contemplação. Pois ao considerar um
mesmo objeto nos vários estratos de sua significação, ela recebe ao mesmo tempo
um estímulo para o recomeço perpétuo e uma justificação para a intermitência do
seu ritmo. Ela não teme, nessas interrupções perder sua energia, assim como o
mosaico, na fragmentação caprichosa de suas partículas, não perde sua
majestade. Tanto o mosaico e a contemplação justapõem elementos isolados e
heterogêneos, e nada manifesta com mais força o impacto transcendente, quer da
imagem sagrada, quer da verdade. O valor desses fragmentos de pensamento é
tanto maior quanto menor sua relação imediata com a concepção básica que lhes
corresponde, e o brilho da representação depende desse valor da mesma forma que
o brilho do mosaico depende da qualidade do esmalte."
(Walter Benjamin) Selected writings
"(...) E nem julguem que alhos e
bugalhos são coisas diferentes, são reflexos diferentes da mesma coisa. Como
num mosaico incrustado de espelhos. Explico: quando se tira um pedacinho dum
mosaico, não se percebe, olhando só para o pedacinho, que faz parte do nariz e
por isso pode perfeitamente passar a fazer parte de qualquer outra imagem para
que seja necessário, mesmo num mosaico sem nariz. É certo que também se poderia
ir retirando do mosaico todos os pedacinhos, como ao gato que sorria tanto para
a Alice que acabou só sorriso sem gato. Mas os gatos são gatos e sorrisos nem
sempre. Por isso o sorriso hamletiano de Yorick transmigou para a página em
preto e branco de Sterne, donde ressuscitou como mestre tutelar dos sorrisos
oblíquos. Além de que é minha firme convicção de que, num mosaico com nariz, o
nariz precisa do seu pedacinho. Faço isso por voto solene de que irei trazendo
para este meu mosaico todos os pedaços necessários para nariz, olhos, dentes,
boca, só que não obrigatoriamente nesta ordem e nem sempre pertencentes ao
reflexo fictício do mesmo rosto. E terá de ser o leitor a encontrar os espaços
mais adequados para colocá-los, segundo o amor tiver".
(Helder Macedo)
Devo
a Gilberto Freyre a inspiração e a coragem para enunciar minha primeira tentativa de estabelecer uma
ordem ou sentido na prolixa relação de fatos e produtos que constituem o que
chamam nossa vida real e ao universo que se não for real ou imaginário uma
ficção construída que se aproxime daquilo que desejamos Porque é no desejo que se encerra a
semente das grandes sonhos Não esqueci de Walter Benjamim ou Helder Macedo como
introdução porque são autores que só e tão somente retificaram a minha crença
que existe uma ordem superior que se não for divina é plenamente artística mas
como metodologia “Alhos & bugalhos ” Ensaios sobre temas contraditórios: De
Joyce à Cachaça,de José Lins do Rego ao Cartão Postal.é a referencia primeira
àquele que desejem libertar-se das obviedades e da burocracia
O
que torna fascinante esta obra ,não a mais importante ou conhecida do autor
é a nítida impressão que falar de coisas
diversas é um estagio de grande sabedoria dos mestres que parece m se deleitar com o sabor das descobertas
insólitas e sua relação com o imenso arcabouço que a história,a filosofia e a
literatura lhes dá .Porque o sábio como o artista transforma uma folha em
branco numa Mona-Lisa ou Gioconda assim como o ignorante é incapaz de sentir a
mínima emoção diante da obra dos grandes mestres.
Após uma defesa de tese de doutorado sobre
filosofia grega ouvia ,na surdina,atentamente as discussões da banca que me soavam encantadoras pois tratavam de
uma metafísica dos vazios .Perguntei aos
mestres de que falavam e este me responderam- do jogo do Palmeiras e
Corinthians .Ou seja através do filtro sábio um jogo de bola se tornara uma
fantástica discussão sobre os vazios
como o são os vazios de um dança
onde bailarino e espaço se encontram com a musica ou sons da multidão no estádio .Lembrei-me do dito cabalista que diz que é
preciso não só aprender as letras pretas mas também aprender a ler as letras
brancas.
Encontrar
no canto ,porão ou sótão daquilo que vivenciamos e produzimos e entender a
intima relação dos mistérios ,do insólito ,das sincronias é talvez a arte
suprema, privilégio de poucos assim como a liberdade o é para poucos.
Acho
que a minha qualidade maior de viajeiro, daquele viajeiro sem planos ou guias
me aproximaram de um mundo de acasos e sinais destas relações que para mim
determinaram minha relação com o mundo e
se há um guia para o descobridor colocaria na obra de H.Hesse “o guia dos
Ociosos” minha outra inspiração para esta doce irresponsabilidade .
Viajar
para mim passou a ser o exercício da liberação das ansiedades e angustias e se para alguns possa parecer estranho Poços
de Caldas foi a minha grande experiência de liberdade aos 9 anos e esta cidade
tornou-se minha referencia de peregrinação porque foi lá na escuridão do antigo
hotel Lealdade que descobri o sabor do mistério, da água ,de meu corpo.
Durante
anos lutei sendo um mau aluno e depois bom e depois não querendo mais estudar e
trabalhar para poder curtir o centro de São Paulo,o edifício Santa Helena ,e a
companhia onírica da sessões do
cine Sta Helena e me transformar num
sebologo nesta constate descoberta e esperança de um sinal nas estantes das
livrarias e bibliotecas .
Mas
há um trabalho de peso que ensina aos iniciados como se pode encontrar sinais
no próprio espaço pois ele ,como o tempo, organiza o nosso ser e embora
confundamos com o físico ,o material ele esta mais para a poesia ,na imagem,no
cinema e principalmente na memória como peça do mosaico fractal que esta ali e
acolá e
Lembrando
que somos sempre os autores desta arquitetura imaginária.
“O
homem esta no céu ,assim como o céu está no homem ”é a lição que Bachelard nos
dá no seu “Poética do espaço” ,Esta obra se tornou meu livro de cabeceira
,minha bíblia diante da inquietude como
professor sobre o que era afinal a arquitetura .Quem entende só arquitetura não
entende nada de arquitetura. Roubei-a de uma outra que se referia a filosofia.
Pois quanto mais definamos a
arquitetura mais nos aproximamos da filosofia. .É certo que os profissionais
arquitetos a reduziram a edificação mas quanto mais sábios se tornam mais se aproximam do nada ,do vazio.E eu que já
tive o privilegio de conhecer a obra de
Le Corbusier até em Chandigar me convenci
ao visitar a “le cabanom”, sua casa
na costa azul ,onde morreu e entender caminhando alguns quilômetros até
seu atelier ,um simples cubo diante de uma paisagem maravilhosa, a semelhança
com uma peregrinação no encontro com nós mesmos.
(Walter Benjamin) Selected writings
(Helder Macedo)
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