El tango de sus ojos
(crítica do filme “O segredo de seus olhos”de Juan Jose Campanella)
“Que el mundo fue y será una porquería
ya lo sé...
(¡En el quinientos seis
y en el dos mil también!).
Que siempre ha habido chorros,
maquiavelos y estafaos,
contentos y amargaos,
valores y dublé...”
Tango de Enrique Santos Discepolo
A primeira vista este filme é um mero policial inspirado em outros com as mesmas cenas e trejeitos policialescos.
Entretanto “La pregunta de sus ojos” obra em se inspirou deveria se chamar “El tango de su ojos” mais adequado a linguagem expressamente portenha que o diretor Juan Jose Campanella quis dar a uma historia recorrente no cinema.
Há 5 personagens .Darin que faz o oficial da justiça que jamais se esquece da cena de estrupo e assassinato e que deseja escrever um livro relatando sua visão deste acontecimento.O marido apaixonado da vítima .Uma juíza bela e sedutora que não consegue superar seus vínculos com sua formação burguesa.Um outro oficial alcoólatra sempre com uma frase anedótica e o assassino que se revela pelo olhar psicopata em todas fotos.É assim como em “Blow-up” de Antonionni que se começa a desvendar o mistério do olhar com um conjunto de fotos.Como nossa memória ou a memória preto e branca do pais vizinho.
O diretor Capanella transcria esta historia como uma tragicomédia ,uma novela mexicana onde todos os personagens são conscientemente caricatos.Em nenhum momento o diretor quis fazer dos atores seres reais.Nem a própria cena da jovem estuprada é realista.É em principio uma obra teatral filmada com todos o atores maquiados e vestidos segundo o papel que viverão tratando da complexidade singular da justiça argentina onde se contrapõem ,burocratas ,simples funcionários,”Office boys idiotas com a juíza ,a mulher pós-graduada em Cornell.Cada um com sua porta abrindo ou fechando-a.Uma caricatura do cinema francês e seus bla-bla-blas .Mas o portenho é anedótico e sua fala é extremamente agradável aos ouvidos brasileiros.Existe um amor mutuo entre os arrogantes portenhos e os “macaquitos” brasileiros.Esta”media-luna” cinematográfica do café “Tortoni” na Avenida de Mayo e o Racing como a Portuguesa que nunca chega ao título, com suas torcidas fieis , enredo desta iguaria que os brasileiros tanto apreciam
O que esta obra consagra é o cenário onde estes “Clowns” palhaços trágicos desempenham seu papeis .Assim parece a Argentina,os portenhos e sua megalomania ridicularizada por eles mesmos.Assim parece a justiça e seus edifícios em Buenos Aires
O amor é piegas.Assistem os “Três patetas” na hora do almoço,esperaram o assassino na estação ,vêm fotografias,decifram cartas.
Atrás da violência o amor parece platônico e as relações que existem são mascaradas por xavecos sedutores e poesias de corredor.
O amor talvez mais profundo é o do olhar e a relação mais importante e comovente é da amizade.Sandoval é o porta cômico ,o azarado mas o mais sincero de todos .
O filme se desenrola como uma lente “voyerista” impotente diante desta mãe a nação argentina acossada por psicopatas .
Este Darin ,ator e diretor maravilhoso representa o que há de mais puro no portenho,um fracassado amante da verdade.
O filme não é explicito ,não é literal,fácil.Como toda obra prima expressa o que há de mais profundo . Como o poeta de Fernando Pessoa “que finge tão realmente a dor que deveras sente o diretor faz das cenas suas despedidas nas estações e seus amados sendo vistos correndo atrás da palma da mão impressa numa janela de um trem como se fossem novas e verdadeiras fazendo o publico soluçar de emoção.
Afinal então qual é pergunta de seus olhos?Saber quem é o culpado?Quem e como procede a justiça num pais que vive um surrealismo peronista perene .?Qual é a pena para os assassinos(sejam os comuns ou da ditadura)?A morte ou prisão perpetua?Mas qual prisão?a prisão da consciência,do ódio,da culpa,da vingança?
Neste filme o mais inocente dos personagens (Darin)é o que esta realmente encarcerado pela memória
A Argentina não é Buenos Aires.É um pais platônico que não vive sua libido com sua história megalomaníaca incompleta.No Brasil chamariam estes personagens de cafonas mas neste filme bizarro é uma celebração ao teatro da Avenida Corrientes,suas Zarzuelas ,suas novelas contempladas pelo choro verdadeiro dos espectadores.
O ponto final, como numa poesia concreta a palavra escrita no começo Te-mo é corrigida por te amo ,medo e paixão dois componentes deste bolo delicioso.Como uma “Anagnorisis” ou “Peripeiteia” das tragédias gregas ,o diretor reescreve o roteiro e muda o título original de uma pergunta para um segredo, da milonga para o cambalache.
Izaak Vaidergorn
sábado, 5 de junho de 2010
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